Para
quem conhece a Internet há menos de cinco anos, sua história poderá parecer
surpreendente. Em nenhum momento dos seus primeiros anos concebeu-se o que vem
acontecendo hoje. Os motivos do seu surgimento também estavam bem longe da
vocação comercial que a Rede assumiu ao longo dos últimos anos.
Para compreender todas essas mudanças, é preciso
voltar um pouco no tempo. No final da década de cinquenta, no auge da Guerra
Fria, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos concebeu a ARPA - Advanced
Research Projects Agency. Sua função era liderar as pesquisas de ciência e
tecnologia aplicáveis às forças armadas. Um dos objetivos foi o de se ter a
possibilidade de desenvolver projetos em conjunto, sem o inconveniente da
distância física, nem o risco de se perder dados e informações de uma base
destruída em caso de combate.
Assim, em 1969, foi criada a ARPANET - ARPAnetwork
e em outubro do mesmo ano foi enviada a primeira mensagem remotamente,
inaugurando na prática suas atividades. Durante os anos seguintes, a ARPANET
foi sendo ampliada com novos pontos em todo os Estados Unidos, passando a
incluir também universidades. Em 1971, surgiu o modelo experimental do e-mail
(o seu primeiro software veio em 1972), ampliando a utilidade da Rede. Já em
1973, foram criadas as primeiras conexões internacionais, interligando
computadores na Inglaterra e na Noruega.
O resto da década de 70 foi marcado pelo
crescimento da Rede, por onde circularam mensagens enviadas até mesmo pela
Rainha da Inglaterra, Elizabeth II. Também surgiram outras redes paralelas que
posteriormente viriam a se unir à ARPANET. Essa união não significava em todos
os casos o desaparecimento de alguma dessas redes, pois uma das premissas da
ARPANET era de que ela fosse capaz de comunicar se com qualquer computador e/ou
rede que houvesse. Essa premissa se mantém até hoje.
Em 1982, foi implementado o TCP/IP, protocolo
padrão da Rede. No ano seguinte, toda a parte militar (que recebeu o nome de
MILNET) foi separada da ARPANET. Em 1985, surgiram os primeiros domínios (.edu,
.org e .gov), logo após à criação deste conceito. Também nessa época, começou a
ser usado o nome INTERNET para se referir ao conjunto de redes liderado pela
ARPANET. Depois da cisão com a parte militar e o uso já comum do termo
INTERNET, a ARPANET se esvaziou e deixou de existir oficialmente em 1990.
Como o pressuposto da Internet é que ela seja
aberta a qualquer computador ou rede que deseje se conectar, é preciso haver
uma forma de tornar possível essa comunicação, pois sistemas diferentes usam
computadores e linguagens diferentes. A maneira de conseguir isso foi através
da criação de um protocolo de comunicação padrão, o TCP/IP. Um protocolo é uma
forma de comunicação entre computadores. Usando o mesmo protocolo, sistemas
diferentes conseguem estabelecer entre si a comunicação desejada.
Em 1991, surgiu a WWW, liderando uma grande mudança
nos hábitos e no perfil dos usuários da INTERNET. Um grupo de cientistas do
CERN - Laboratoire Européen pour la Physique des Particules decidiu
tornar seu tempo de uso da Rede mais rápido, fácil e produtivo. Para isso,
desenvolveram e acabaram por criar, em 1991, o serviço WWW. Na época era muito
complicado e trabalhoso navegar na Internet. Somente programadores e operadores
tinham capacidade para usar a Rede e mesmo para eles isso era trabalhoso e
despendia tempo. Com a WWW, a tarefa de navegar tornou-se extremamente simples.
Endereçamentos amigáveis e visualização clara e rápida possibilitaram ao leigo
um acesso antes restrito a especialistas.
Para navegar nesse novo sistema, foi criado um novo
tipo de software, conhecido como browser ou navegador. O primeiro a ter grande
impacto foi o Mosaic, liderado por M. Andreeseen, que mais tarde fundaria a
Netscape Communications Corporation. O Mosaic se espalhou por milhares de usuários,
tornando a WWW conhecida rapidamente, o que levou à multipligação da quantidade
de home-pages disponíveis. Com essa multiplicação, mais usuários aderiram,
criando um ciclo de crescimento da ordem de 300% ao ano, nos cinco primeiros
anos de sua existência.
Com essa explosão e a facilidade de uso, começaram
a surgir os usuários de fora das universidades: empresas e pessoas físicas. É
quase incontável a quantidade de novos negócios que surgiram e continuam a
surgir com os nichos criados pela explosão da WWW. O melhor campo para se
observar é o de software. Empresas surgiram da Rede e para a Rede, como a
Netscape . Seu primeiro produto foi o browser Netscape
Navigator, o qual, com o tempo, superou o antigo Mosaic, e mantém uma posição
de destaque num mercado com vários concorrentes.
A estrutura de acesso antes da WWW foi
originalmente projetada para membros de centros de pesquisa e universidades. A
maior parte das conexões era feita dos próprios centros e laboratórios das
universidades, e as que eram feitas de outros locais (casas, escritórios etc.)
usavam linhas telefônicas e eram perfeitamente suportadas pela estrutura
existente. Porém, com milhares de novos usuários, uma nova estrutura precisou
ser montada para complementar a existente. É onde entram os provedores de
acesso. Essas empresas têm uma conexão permanente (geralmente de grande
capacidade) e modems ligados a linhas telefônicas, disponíveis em grande número
para prover acesso aos seus usuários. Mais adiante será explicado em detalhes o
funcionamento dos provedores e seu papel no crescimento da Internet.
Além do surgimento de empresas como a Netscape, as
tradicionais empresas de informática voltaram seus olhos para esse novo
mercado. Algumas mais rapidamente, como a Sun Microsystems, Inc.
, cheia de inovações para a Web, como a linguagem
JAVA, ou a Cisco Systems, Inc. , produzindo um dos
principais equipamentos utilizados na Internet, os roteadores, que muito
ajudaram a rápida expansão da Rede. Outras empresas foram mais lentas, como a
gigante Microsoft Corporation . Bill Gates,
seu fundador e ex-presidente, chegou a chamar a Internet de "uma bagunça
sem real potencial de negócios".
O fato é que a Internet chegou a ser um fenômeno de
massa, com milhões de usuários espalhados pelo mundo, movimentando milhões de
dólares em comércio eletrônico. Há vários fatores que colaboraram com isso, um
deles é o fato de a tecnologia Internet ser barata (até por ter sido desenvolvida
em grande parte em Universidades e outros centros de pesquisa) e aberta, tendo
sido rapidamente incluída em todos os sistemas operacionais. Aplicações que
antes eram onerosas (exigindo soluções proprietárias e desenvolvimento
específico), com a tecnologia Internet se tornaram bem mais baratas, inclusive
pelo maior número de usuários para ratear os custos.
No final do século, a Internet mantém taxas de
crescimento altíssimas e novos negócios surgem a cada momento. O que é novidade
hoje, amanhã poderá ser apenas uma lembrança ou tornar-se uma idéia bem
sucedida e adaptada à rotina da Rede. É muito difícil se prever exatamente como
será o futuro da Internet, mas uma coisa é certa: a Rede terá um impacto cada
vez maior na sociedade, em todo o mundo.