Por Carol Pereira
Data de nascimento: 22 de junho de 1943
Data de falecimento: 02 de julho de 1993
Talvez tenha sido ele o maior herói da recente história de nosso município; deu sua vida corajosamente, tentando salvar pessoas que por conta de uma enchente estavam ilhadas.
Dico era filho de Alibio Mariotti – que veio da Itália - e Maria Schistel Mariotti e nasceu no Morro da Baracatinga, em Alfredo Wagner , no dia 22 de junho de 1943; era um dos mais novos dos 7 filhos do casal. Sua mãe funcionária pública, teve que trabalhar muito para sustentar a família. Quando o pai morreu, Dico tinha apenas 7 anos de idade.
Quando jovem foi morar e trabalhar com seu irmão Claudino na Santa Bárbara, foi lá que aos 14 anos conheceu Isolete Santos – 13 anos – em uma festa de igreja. Foi paixão à primeira vista. Namoraram por seis anos e então se casaram na igreja do Barracão, tendo como celebrante padre Cristovão Arnold. O casal teve 4 filhos – Sandra, Luiz, Janice e um natimorto.
Com um grande espírito empreendedor, trabalhou muito para conquistar seu vasto patrimônio. Logo que voltou a morar na praça - centro da cidade - começou a trabalhar como mecânico. Alguns anos depois em sociedade com seu irmão Claudino – a sociedade se chamava Irmãos Mariotti - abriu uma mercearia; enquanto seu irmão trabalhava na mercearia - que se localizava onde hoje se encontra o bar do Helinho – ele fazia, de caminhão, fretes para o Paraná levando milho e trazendo mercadorias para serem comercializadas na mercearia, em uma dessas viagens sua filha Sandra se escondeu debaixo da lona e só perceberam que a menina estava escondida momentos antes da partida, evitando assim que ela ficasse por cerca de cinco dias desaparecida e seguindo em direção ao Paraná, a história ainda é lembrada pela família e eles se divertem lembrando da serelepe criança. Alguns anos mais tarde passou a ser cerealista – proprietário de máquinas de cebola – além de adquirir grande quantidade de terras onde plantava cebola e criava gado.
Muitas pessoas dependiam de Dico para viver. Em suas terras que ficavam no Soldadinho e nas Demoras ele empregava cerca de 12 famílias. Homens, mulheres e crianças que tinham adoração por seu patrão, sempre muito generoso. As famílias de arrendeiros fizeram parte do negócio de compra das terras. Os militões – sobrenome Oliveira – como eram chamados, foram alguns dos primeiros moradores daquela região. Descendentes de escravos, teriam vindo ali parar depois de terem abandonado a construção da estrada de pedra da Barra Velha, na qual trabalhavam tendo que puxar as pedras. Além dessas famílias também dependiam de Dico as famílias dos caminhoneiros que trabalhavam com a frota de caminhões que tinha em parceria com seu irmão.
Sempre foi um homem muito religioso e ativo neste meio. Foi inúmeras vezes festeiro em festas das comunidades do interior e também aqui no centro. Se empenhou para a construção da igreja do Soldadinho e na construção da nossa Matriz. Usava seu caminhão para puxar areia e os outros materiais utilizados na construção. Foi ele quem, em seu caminhão, trouxe a enorme cruz que hoje se encontra no altar da igreja Matriz. É lembrado por sempre oferecer generosas prendas nas festas da matriz e também persuadir pessoas de fora que com ele mantinham negócios a também oferecerem prendas generosas em nossas festas.
Na política foi vereador por duas vezes, uma na gestão de 1983 até 1988 e novamente na gestão de 1992 até 1996 – não chegando a completá-la. Dico também disputou as eleições para prefeito do ano de 1976, tendo como vice Lauro Schweitzer, mas acabaram não se elegendo.
Dico tinha como hobby pescar e caçar. Sempre ia com sua esposa para o Pantanal ou para o Rio Grande do Sul onde passava dias pescando, flutuando calmamente sobre as águas com seu barco. No dia 01 de Julho foi para Florianópolis para fazer algumas compras e se preparar para a viagem que faria no dia seguinte. Ele, acompanhado por sua esposa, iria para o Rio Grande em uma pescaria. Entre outras coisas comprou um motor novo para seu barco. Ao chegar em casa não demorou muito para começar a chover incessantemente, e assim se fez durante toda a noite. No dia seguinte à Beira Rio já amanheceu lotada por pessoas preocupadas, era inevitável, o rio inundaria a cidade. Todo o centro da cidade e bairros próximos ficaram debaixo d’agua. O rio levava árvores, pontes de concretos, casas inteiras... a fúria das águas era imensa. Algumas pessoas haviam ficado ilhadas no Barracão de dentro e amigos de Dico sabendo que ele tinha um barco e poderia – e gostaria – de ajudar ligaram para ele. Assim que soube que um grande amigo estaria entre essas pessoas, apesar dos pedidos de família e de amigos, subiu em seu barco e foi salva-lo. Junto dele no barco estavam dois policiais. Devido a turbulência das águas os três se desequilibraram e os policias caíram, Dico conseguiu permanecer no barco até que metros adiante ele virou. Essa cena foi assistida por dezenas de pessoas que de cima da ponte do Rio Adaga acompanhavam o ato corajoso.
O corpo de Dico jamais foi encontrado. Durante 11 dias os bombeiros realizaram buscas; depois disto seus empregados e conhecidos continuaram nesta empreitada mas pouco a pouco as esperanças de encontrá-lo com vida foram morrendo. Perto do local onde ele foi visto pela última vez foi construído um memorial, onde a família tentando diminuir a dor o homenageia.
A cidade de Alfredo Wagner após a enchente além de estar em luto pela morte de Dico, que era uma figura ilustre da cidade e conhecido por todos, ainda tinha dezenas de desabrigados, que tiveram suas casas levadas pelas águas. Um loteamento foi construído para que essas famílias pudessem construir novas casas, em um lugar seguro, livre de enchentes. A esse loteamento foi dado o nome de Valdir Mariotti, homenageando assim o homem que deu a vida tentando ajudar as vítimas da enchente.
Informações transmitidas por:
Isolete Santos Mariotti
Sandra Regina Mariotti
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